16 dezembro 2011

Sinestesia: Ouvir cores ou sentir o gosto das palavras?

FOTO: Um pelicano australiano na praia, durante o por do sol, com a legenda: “Ouvir a temperatura do mar…”
Montagem: Samej Spenser
Foto: © bigwavephoto | Flickr

 

Introdução

Recentemente, encontrei este artigo intitulado “Porque vale a pena sentir o gosto de palavras e ouvir cores” no site HypeScience. Gostei muito do conteúdo e (após a devida autorização), resolvi trazê-lo para vocês. Espero que gostem do artigo tanto quanto eu gostei! ;)

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Porque vale a pena sentir o gosto de palavras e ouvir cores

IMAGEM: Sinestesia

Eu vejo cores e ouço sons. Você provavelmente também. No entanto, algumas pessoas também ouvem as cores e sentem o gosto de palavras, um fenômeno misterioso chamado sinestesia, que ocorre quando um estímulo dos cinco sentidos desencadeia experiências em um sentido não relacionado.

Agora, pesquisadores sugerem que esta característica incomum pode proporcionar inúmeros benefícios mentais, explicando por que a evolução manteve o fenômeno vivo.

Os cientistas descobriram a sinestesia no Século XIX, ao observar que certas pessoas viam cada número ou letra tingidos com uma cor especial, mesmo que eles fossem escritos em tinta preta. Esta condição, conhecida como sinestesia grafema-cor, é a mais comum das mais de 60 variantes conhecidas da sinestesia.

 

IMAGEM: Exemplo de sinestesia cor-grafema ou grafema-cor
Exemplo de sinestesia cor-grafema ou grafema-cor. | Wikimedia

 

Embora a sinestesia possa ocorrer devido ao uso de drogas, lesão cerebral, privação sensorial e até mesmo hipnose, pesquisas revelam que 2 a 4% da população em geral experimentam naturalmente a sinestesia. O fenômeno tende a ser herdado nas famílias.

Estudos recentes que analisaram o cérebro de pessoas com sinestesia grafema-cor revelaram que ela é causada por um aumento do número de conexões entre as regiões sensoriais do cérebro.

A principal questão relacionada à sinestesia é “por que o fenômeno tem sobrevivido, se não parece fornecer qualquer benefício?”.

Agora, cientistas estão encontrando respostas à essa questão a partir daqueles que têm a condição — sinestetas.

Por exemplo, a sinestesia é sete vezes mais comum em artistas, poetas e romancistas do que no resto da população.

 

IMAGEM: Teclado sinestésico
Teclado sinestésico, segundo o compositor Alexander Scriabin

 

O neurocientista cognitivo Vilayanur Ramachandran, da Universidade da Califórnia, EUA, e seus colegas sugerem que os genes mutantes responsáveis pela sinestesia podem levar as pessoas a perceber as relações não só entre sensações aparentemente não relacionadas, mas também entre ideias aparentemente sem relação, levando à uma maior criatividade.

Curiosamente, sinestetas às vezes também demonstram habilidades notáveis de memória. Por exemplo, o escritor britânico Daniel Tammet disse que, para ele, cada inteiro positivo até 10.000 tem a sua própria forma, cor, textura e gosto. Ele usou sua sinestesia para memorizar a constante matemática π (Pi), até 22.514 dígitos.

Os cientistas têm sugerido que a sinestesia pode estar ligada com savantismo, incrível experiência, habilidade ou genialidade em uma ou mais áreas, às vezes visto em pessoas com autismo ou outros transtornos mentais.

Além disso, os pesquisadores descobriram que sinestetas que ligam números a cores são melhores que outros em discriminar cores muito semelhantes, enquanto sinestetas espelho-toque — aqueles que experimentam sensações táteis em seu próprio corpo quando veem alguém ser tocado — possuem um sentido mais sensível de toque. Isto sugere que os sentidos dos sinestetas são reforçados de maneira muito sutil.

Os pesquisadores sugerem que a sinestesia pode fornecer pistas importantes para uma melhor compreensão geral da mente humana. A sinestesia pode ser uma variante extrema do processamento multissensorial — isto é, como o cérebro processa a informação de múltiplos sentidos de uma só vez.

Sendo assim, entender as diferenças entre esse tipo exagerado de processamento multissensorial pode ensinar sobre o funcionamento interno de processos normais multissensoriais. Os sinestetas também podem ajudar a entender melhor a neurociência da criatividade.

 

Fonte: HypeScience
Por: Natasha Romanzoti

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Eu, (Samej), não sou sinesteta, mas já presenciei este “fenômeno” conduzido por sugestões hipnóticas.

Alguém dentre vocês é, ou conhece um sinesteta? Fale um pouco sobre isso logo aí abaixo nos comentários!

 

Notas

  • A revista Superinteressante tem uma matéria muito legal sobre o assunto (Ed. 184, Jan/2003). Clique aqui para ler na íntegra;
  • A revista IstoÉ, n° 2042, de 24 de Dez/2008, também traz uma ótima reportagem sobre sinestesia entre as páginas 70 e 72;
  • Imagem: Renata Pinheiro — Sinestesia;

 

Vídeo

Veja um TED do neurologista, Dr. Vilayanur Ramachandran, falando o que lesões no cérebro podem revelar sobre a conexão entre tecido cerebral e a mente, usando três delírios impressionantes como exemplos. (O vídeo tem 23 minutos. Para os apressadinhos, que quiserem adiantar direto para a parte sobre sinestesia, avance até os 17m42s).

 


Vídeo em inglês com legenda em Pt-BR.

 


Atualizado em 2016/02/03