04 fevereiro 2011

Editores da Scientific American são hipnotizados

LOGO: Scientific American Imagem: Wikimedia Commons

 

Equipe da revista americana passa por sessão de hipnose e experimenta imobilismo dos dedos e amnésia momentânea.

 

Os editores da Scientific American se orgulham do seu ceticismo em relação à pseudociência e da sua obstinação por pesquisas rigorosas.

Assim, em 2001, convidaram Michael R. Nash, da Universidade do Tennessee em Knoxville, e o psicólogo e pesquisador Grant Benham, para uma visita a Nova York, de modo que pudessem ver em primeira mão o que era a hipnose. Seis integrantes da equipe editorial da revista — três homens e três mulheres, nenhum dos quais havia sido hipnotizado antes — estavam dispostos a dar uma chance ao procedimento. O resultado surpreendeu a todos.

Nash e Benham montaram dois ambientes tranquilos. Cada pesquisador hipnotizou três pessoas individualmente, gastando cerca de uma hora com cada uma delas. Eles aplicaram em cada voluntário as Escalas de Suscetibilidade Hipnótica de Stanford, que medem a sensibilidade de um indivíduo à hipnose, numa escala de zero a 12.

Uma das coisas mais surpreendentes sobre a experiência hipnótica foi a grande facilidade de provocá-la. Para induzir à hipnose, Nash e Benham apenas pediram aos editores para fixar o olhar num post-it amarelo na parede e falaram, com voz serena, como deviam se sentir relaxados e como seus olhos estavam cansados. “Todo o seu corpo está pesado — mais e mais pesado”, disseram, nas instruções de Stanford. “Você está começando a se sentir cansado — cansado e sonolento. Cada vez mais cansado e sonolento, suas pálpebras estão mais pesadas, cada vez mais cansadas e pesadas”. A voz suave prosseguiu por cerca de 15 minutos, após os quais cinco voluntários haviam fechado os olhos, sem que isso lhes tivesse sido diretamente solicitado.

As escalas de Stanford consistem em 12 diferentes atividades, como tentar afastar os dedos entrelaçados com força, sentir o braço elevado abaixar involuntariamente e ter a alucinação de ouvir uma mosca zumbindo. Das seis pessoas, uma marcou 8 pontos, uma 7, uma 6, duas pessoas marcaram 4 pontos e uma 3. (A pontuação de 0 a 4 corresponde a “pouco” hipnotizável; de 5 a 7, a “medianamente” hipnotizável; e de 8 a 12, a “altamente” hipnotizável.) Ninguém adivinhou com precisão o quão suscetível seria: alguns, que pensaram ser muito sugestionáveis, mostraram-se ser precariamente hipnotizáveis, enquanto outros que se julgavam casos difíceis ficaram surpresos ao ver os dois braços antes abertos se fechando sozinhos, ou a boca tão fechada que não podiam dizer o próprio nome.

Todos tiveram a sensação de “assistir” a si mesmos — o que às vezes foi bem divertido. “Eu queria dizer o meu nome, mas não conseguia mover a boca”, recordou um dos editores. Outro teve a impressão de que seus dedos estavam “imobilizados” durante o exercício de entrelaçar os dedos. “No início eles se moveram com facilidade, mas depois pareciam travados. Foi interessante ver como era tão difícil movimentá-los”.

Só uma pessoa experimentou a atividade número 12 das escalas de Stanford — a amnésia pós-hipnótica. Nesse exercício, o hipnotizador pede ao indivíduo para não se lembrar do que ocorreu durante a sessão. “Toda vez que tentava me lembrar”, disse o editor que teve esta sensação, “a única coisa que me ocorria era que eu não devia lembrar. Quando o Dr. Benham disse que eu podia lembrar, tudo voltou numa enxurrada”.

Em geral, a experiência foi muito menos misteriosa do que se esperava. A sensação era como cair num suave cochilo depois de acordar pela manhã, enquanto você ainda está na cama. Todos os voluntários relataram que se sentiram menos hipnotizados em alguns momentos da sessão que em outros, como se viessem até a “superfície” por alguns instantes e, depois, mergulhassem de novo.

Todos da equipe concluíram que ver é acreditar quando se trata da hipnose. Ou talvez, ouvir é acreditar: “Eu sou a que ouviu — e esmagou — a mosca imaginária”.

 

Carol Ezzell Webb, ex-redatora da Scientific American.
(7 pontos na Escala de Stanford).

 

Para conhecer mais

  • Hypnosis for the seriously curious. Kenneth Bowers. W. W. Norton, 1983.
  • Contemporary hypnosis research. Erika Fromm e Michael R. Nash. Guilford Press, 1992.
  • Sociedade de Hipnose Clínica e Experimental (www.sceh.us).

 

Sobre os hipnotizadores

  • MICHAEL R. NASH é professor de psicologia da Universidade do Tennessee em Knoxville. Desenvolve pesquisas sobre memória humana, patologia dissociativa, abuso sexual, psicoterapia e hipnose.
  • GRANT BENHAM é professor-assistente da Universidade do Texas-Pan-Americana e investiga as interações mente-corpo, hipnose e psiconeuroimunologia.

 

Publicado originalmente pelo site Mente Cérebro

 


Atualizado em 2016/01/11