A máquina do tempo, inventada e reinventada tantas vezes nas produções cinematográficas, tornou-se a grande obsessão do homem moderno. Da recriação do período jurássico através dos recursos computacionais às excursões para o futuro. Novas cidades, diferentes dimensões, outros mundos.
Os físicos modernos se debruçam sobre modelos teóricos e hipotizam1 a respeito de viagens através do tempo. Se toda essa discussão, por enquanto, permeia apenas o campo da ficção e das hipóteses teóricas, no campo do psiquismo humano a coisa se mostra um tanto diferente, a começar pela própria atemporalidade mental. Basta referimo-nos a fatos sofridos no passado e… sofremos novamente.
De fato esta flexibilidade mental-temporal é a razão principal das angústias humanas; lamentação (o que foi) e preocupação (o que será).
Então, são falsas ou verdadeiras as experiências relatadas sob transe hipnótico? Alguns pesquisadores provaram que a regressão de idade acontece também numa instância fisiológica.
Em 1896 o fisiólogo Joseph Babinski relacionou o desaparecimento do reflexo cutâneo plantar normal à disfunção das vias piramidais (o teste de Babinski só é verificável a partir de alguns meses de idade, já que o bebê não apresenta o reflexo plantar). Conforme relatos encontrados na literatura sobre hipnose, numa regressão induzida à tenra idade, o teste de Babinski apresenta-se negativo, demonstrando que o indivíduo regride também fisiologicamente, acessando uma instância arcaica de sua neurologia.
Um indivíduo regredido hipnoticamente é capaz de acessar os “arquivos” cujos caminhos foram esquecidos no transcurso do tempo. Tal fato pode ser comprovado ao observamos pela primeira vez uma fotografia de nossa infância e, imediatamente, reconstituirmos os fatos associados com certa naturalidade: “puxa, lembro-me agora desta camisa de estampa laranja que ganhei de minha madrinha”; “tirei esta foto no terreno onde é a casa do Seu Juca”; “lembro-me agora que nesta época eu tinha um triciclo vermelho”. O fato é que a fotografia serviu apenas para eliciar o registro a muito esquecido.
É importante que se diga que na regressão induzida hipnoticamente o acesso ao período não acontece pela força da vontade ou curiosidade — e esse processo é uma incógnita — mas sim por relações pertinentes aos aspectos relacionados às experiências e necessidades atuais de um indivíduo. Sob esta perspectiva, muitos teóricos interpretam os sonhos. Mesmo que esses refiram aos arquivos de toda uma existência, emerge apenas aquilo que se relacione ao momento do sonhador, possível razão de conflito, como algo não resolvido, compreendido.
Segundo Pincherle2, uma hipnose regressiva pode ser usada para regressão de curto prazo, para melhorar a memória de determinados detalhes parcialmente esquecidos ou para regredir a fases traumáticas da infância, do parto, da gravidez e, em certos casos, para voltar a supostas “vidas anteriores”.
Sem dúvida a regressão de idade é um fenômeno intrigante que desafia a compreensão lógico-racional e nos coloca à margem de nosso núcleo — objeto de estudo de filósofos, antropólogos, psicólogos, enfim, toda ciência que tem o homem como foco central. As perguntas que não calam: “De onde vim? Por que estou aqui? Para onde vou?”.
Por Paulo Madjarof Filho
Notas
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HIPOTIZAR: Admitir algo por hipótese ↩
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Veja o livro de Lívio Túlio Pincherle, (Terapia de Vida Passada), no Google Books, clique aqui. ↩
Atualizado em 2016/01/09