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1. Arquitetura do Aprendizado
A Hipnose Aplicada à Educação é uma abordagem educacional que reúne interessantes ferramentas e dispositivos da comunicação humana com o objetivo de promover o aprendizado profundo — também entendido como “insight” (introvisão ou síntese criativa) ou aprendizado por descoberta. Tem sido especialmente utilizada em processos acelerados de aprendizagem, de desenvolvimento de percepção e mudanças comportamentais saudáveis e naturais (ecológicas).
Tecnicamente, consiste em uma determinada forma de estruturar a linguagem e na organização de algumas experiências, vivências e exercícios de imaginação e introspecção. É uma adaptação de conceituações e práticas de diferentes campos do conhecimento, desde alguns padrões da Hipnose Terapêutica até as habilidades dos contadores de histórias; desde exercícios de aumento de sensibilidade e percepção, até formas características dos maiores canais indutores de estados alterados de consciência de nossa época: o cinema e seus insistentes convites à percepção de todas as fantasias, emoções e sentimentos a que ele nos induz (considere “A Jornada do Herói”, — também conhecida por Monomito —, modelo mítico arquetípico aceito como esqueleto básico da cinematografia americana atual — vide Joseph Campbell em “O Herói de Mil Faces”).
Nesse estilo de atividade não existem induções formais como na hipnose terapêutica, muito menos algo que se relacione com as apresentações de palco e de televisão. De fato, existem convites ocasionais feitos ao participante à experimentar diferentes pontos de vista de observação a respeito de assuntos cotidianos (ressignificação). Isso oferece condições propícias para entrar em estados naturais de absorção em suas fantasias, devaneios e consequentes julgamentos e avaliações. Os eventuais processos regressivos não são deliberadamente induzidos, porém ocorrem totalmente consciente e espontaneamente na busca de referências passadas (em memória) que sejam associáveis à experiência presente.
Lembrando-nos de que, enquanto seres humanos, ao nascermos, não recebemos um manual de instruções de como operar melhor o nosso “grande computador” — o cérebro e o corpo humano — e nossos pais também não, esta tecnologia serve para adaptar e flexibilizar nossos hábitos na construção de maior bem estar e eficácia na forma de conduzir nossas vidas.
Na prática, utilizamo-nos de cenários ou enredos nos quais as metáforas são construídas e apresentadas como ambientes para o apoio da mente consciente tão ávida de entendimento. Simultaneamente, através de estruturas metafóricas, oferecemos outras alternativas à mente inconsciente para que ela possa percorrer outros caminhos de percepção e compreensão. Em certos momentos ocorrem sequestros espontâneos da mente consciente que passa a experienciar alguns fenômenos hipnóticos comuns: regressão, distorção ou projeção temporal, ampliação ou redução do campo de percepção sensorial, agitação, hiperatividade, sonolência ou torpor que se aproximam e se afastam muito rapidamente, comoções emocionais e, principalmente, uma grande quantidade de “insights” (ou “Intuição”) aparentemente desordenados.
Os resultados do uso destas tecnologias aplicadas à educação consistem em hiperestimular, ativar e reintegrar estilos de processamento cerebral dos hemisférios direito e esquerdo. Não obstante, a melhor metáfora para diferenciar do processo terapêutico formal é imaginar as diferentes atitudes do terapeuta e do educador caso se dispusessem a obter um copo de água limpa a partir de um com água suja: o terapeuta, possivelmente, elaboraria um complexo sistema de filtragem para retirar as impurezas daquela água (problemas), enquanto o educador possivelmente procuraria uma fonte com água limpa e, misturando com a antiga, após transbordar, atingiria os níveis de pureza adequados.
Essas pesquisas e desenvolvimentos, no campo do comportamento e interações humanas, apontam para uma época na qual poderemos dizer que a educação terá se desenvolvido proporcionalmente às nossas ciências de alta tecnologia, tais como engenharia eletrônica, genética e micromecânica e etc. Aí, então, provavelmente com apenas onze ou doze anos de idade, um indivíduo poderá acumular o conhecimento técnico correspondente a uma graduação superior em nível de doutoramento.
2. A Hipnose Aplicada à Educação
Tenha certeza de que qualquer indução hipnótica, seja ela educacional, terapêutica ou espontânea, é somente um convite à sua consciência para abandonar o controle e observar outras realidades ou à sua mente inconsciente para sequestrar a atenção (ou tensão) consciente para poder expressar e atuar de forma mais livre e plena. Portanto, a atitude do cético, comumente, é bastante genuína e importante para o equilíbrio interior e a autoidentificação conscientes (atividade regular de reconhecer a própria identidade).
Vale lembrar mais uma vez que os estados de consciência, desde os mais conscientes até os mais inconscientes, são vivenciados com grande naturalidade, diariamente, do estado de vigília (das ondas beta e seus subníveis) até o sono profundo.
Um modelo simples de como entender esses processos é pensar no funcionamento de um rádio. Nossas mentes (a consciente e a inconsciente em seus vários níveis) podem ser entendidas como um ambiente povoado de ondas de rádio e televisão. Como na sala de televisão da sua casa, por exemplo. Porém, sem um aparelho receptor não tomamos consciência de nada. Se ligarmos, entretanto, uma TV ou um rádio, poderemos capturar cada um dos programas apresentados nas diferentes emissoras.
Da mesma forma, você pode experimentar esse processo dentro de você mesmo: escolha diferentes estados interiores, como a sensação de estar sentado, deitado ou em pé, todas as coisas que você pode ver ao seu redor, todos os sons do ambiente que você pode escutar. Sintonize agora algumas percepções de fronteira: uma sensação suave do corpo, um som quase inaudível no ambiente, uma cena que usualmente passa despercebida em seu ambiente.
De fato, não importa se você estiver se lembrando, percebendo, fantasiando ou imaginando, são apenas estados diferentes. Procure agora algumas memórias: a lembrança de um lugar no qual você esteve, algo que você se lembra de ter escutado (uma música, por exemplo), uma sensação que esteja em sua memória. Observe se as informações procuradas, através dos cinco sentidos ou em suas memórias e fantasias, produzem estados diferentes. Perceba que, para gerar lembranças na forma de cenários, nos sintonizamos em um determinado tipo de informação (consequentemente, temos determinadas percepções e impressões).
Entretanto, se buscarmos lembranças ou elaborações na forma de sons, então nos colocaremos em outro estado; se ainda procurarmos por nossas sensações, ainda existirá outra forma de nos percebermos. Em cada uma dessas buscas por informações, nossa atenção se desloca de forma diversa para um ambiente diferente. É tão automático e natural que nem nos damos conta de como “localizamos” essas percepções. Sabemos de antemão em que “gaveta” encontraremos essas informações.
Nesse modelo simples, a inabilidade de acessar imagens, sons ou sensações significa apenas que não sintonizamos uma determinada estação com facilidade. Como se não soubéssemos qual é a estação adequada em um momento, mas tudo está lá! Essas ferramentas, essas formas de saber sintonizar as percepções ou memórias, nos proporcionam muito mais flexibilidade de percepção e alternativas para nossos comportamentos. Então, o possível fato de não termos acesso consciente a determinadas estações de nosso rádio não significa que elas não existam, e sim, que ainda não sabemos como operá-las melhor ou encontrá-las.
Se você tiver interesse em entender ou construir um modelo mais preciso desses processos, basta começar a observar como você faz para se abandonar ao adormecer. Os hábitos de sono e descanso vividos por um indivíduo acabam por configurar certa parcela de sua identidade: “Eu sou assim…”. Eventualmente, uma mudança “casual” em seus comportamentos habituais de dormir será lentamente incorporada à sua forma de se entender e se perceber (identidade), mantendo a certeza de que acordará oportunamente, seja na manhã seguinte, seja durante a noite, para efetuar alguma necessidade biológica.
Perceba também que, por mais cética que uma pessoa seja, ainda assim possui um tipo de certeza (crença) de que acordará no dia seguinte, ou mesmo a certeza de que amanhecerá (o Sol se levantará). Tais fenômenos são considerados inquestionáveis e cientificamente comprovados até certo ponto. Essas certezas são apenas comprováveis, respectivamente, pela história pessoal (memória) ou pela crença na veracidade da ciência em afirmar que, necessariamente, o planeta Terra gravita em torno da estrela Sol, (Sim! O Sol é uma estrela!), embora nossos sentidos e percepções nos iludam, oferecendo-nos a ideia de que é o Sol que percorre a abóbada celeste.
Do Livro: Domesticando o Dragão — “Aprendizagem acelerada de línguas estrangeiras”.
Autor: Walther Hermann — Edição do autor. Apêndices 7 e 8.
Atualizado em 2015/12/12