Olá à todos! Devido a alguns compromissos, tive que me ausentar do blog no início deste do ano de 2013. Mas hoje trago um artigo inédito sobre a utilização da Hipnose na Odontologia.
Tenho amigos na área, e alguns deles também utilizam a hipnose em suas práticas clínicas. Tanto nós hipnólogos, como os dentistas e/ou odontólogos que utilizam a hipnose, sabemos como é “raro” encontrar novos materiais, textos, vídeos e pesquisas da utilização da hipnose em odontologia, (principalmente conteúdo nacional!).
Desta forma, é com grande alegria e satisfação que trago este artigo escrito pelo amigo Diego Wildberger, — ainda estudante de odontologia cirurgião dentista —, que vem obtendo excelentes resultados com a hipnodontia em Salvador, BA.
Tópicos
- Introdução
- A Hipnose em Odontologia
- As Vantagens de Sua Utilização
- A Hipnose como Coadjuvante em Cirurgias
- Notas
Introdução
Por ser uma técnica pouco difundida no meio médico e odontológico, principalmente em âmbito acadêmico, — onde é apenas citada e não explorada —, a hipnose sempre foi considerada “coisa de outro mundo” apesar de, às vezes, ser pouco utilizada entre boa parte dos cirurgiões dentistas.
A hipnose não é só uma ferramenta cientificamente eficaz, como também reconhecida oficialmente pelo Conselho Federal de Odontologia. Esse reconhecimento se deu através da Lei nº 5.081, de 24/08/1966 no decreto nº 68.704, de 03/06/1971, que regula o exercício da Odontologia, e na resolução nº 82, publicada no Diário Oficial da União de 01/10/2008, seção 1, pág. 105, capítulo IV, que normatizou a Hipnose, — entre outras práticas integrativas e complementares à saúde bucal —, permitindo ao cirurgião-dentista utilizar(-se) da hipnose na sua prática clínica, desde que comprovadamente habilitado e quando constituírem meios eficazes para o tratamento.
A Hipnose em Odontologia
A hipnose é uma prática dotada de métodos e técnicas que propiciam aumento da eficácia terapêutica em todas as especialidades da Odontologia, não necessita de recursos adicionais como medicamentos ou instrumentos, sendo necessários apenas comandos de voz, permitindo que seja empregada no ambiente clínico respeitando o limite de atuação do campo profissional do cirurgião-dentista. Ao contrário do que muito profissional da área de saúde imagina, o uso de técnicas de hipnose quando bem aplicadas, podem ter efeito mais rápido do que o uso de analgésicos e fármacos convencionais, economizando tempo clínico.
É muito importante lembrar que como em qualquer procedimento cirúrgico, tomar os cuidados básicos e estabelecer um planejamento prévio é essencial. Saber identificar a suscetibilidade1 e as diversas sintomatologias do paciente quando em estado hipnótico é de extrema importância para definir e reconhecer o nível de transe que está sendo atingido. Isso fará com que os resultados obtidos, tanto transcirúrgicos quanto pós-cirúrgicos, sejam similares ou até melhores quando aplicado o uso de fármacos, sem gerar nenhum tipo de trauma ao paciente.
Os aspectos emocionais e psicológicos do paciente também devem ser considerados. Estabelecer um vínculo de confiança entre o profissional e o paciente é fundamental para a eficácia do tratamento. Saber escutar e fazer uso de palavras apropriadas são habilidades e qualidades que os hipnólogos devem ter para criação desse vínculo.
As Vantagens de Sua Utilização
As principais vantagens no uso da hipnose em Odontologia são:
- Analgesia pós-operatória;
- Anestesia localizada e seu desaparecimento logo após o tratamento, não tendo o paciente que permanecer com incômodos por ela provocados. No caso do uso da anestesia química, a quantidade desta será tão diminuída que os incômodos pós-anestesia serão também minimizados;
- Eliminação e/ou não produção de cansaço ao paciente;
- Hemostasia (controle de sangramento);
- Recuperação pós-operatória extremamente facilitada e rápida;
- Redução das tensões do cirurgião-dentista;
- Sialostasia (controle salivar);
Os estudos mostram que a cirurgia com hipnose, em comparação com anestesia local/geral, melhora muito o bem estar pós-cirúrgico do paciente. Ao contrário do que se pensa, o paciente não dorme, permanecendo em um estado alterado de consciência, entre a vigília e o sono. O senso crítico é afastado e a frequência cerebral diminuída. Desta forma, o paciente é beneficiado por um relaxamento profundo, enquanto o profissional realiza os procedimentos necessários. Isso melhora o processo de cura, cicatrização, reduz a dor pós-cirúrgica e o uso de medicamentos, como por exemplo, os analgésicos, além de poder potencializar ou reduzir seus efeitos, facilitando a terapêutica odontológica.
Na odontologia, um dos principais motivos para uso da hipnose é reduzir a ansiedade dos pacientes no pré-atendimento clínico/cirúrgico, assim como para realizar anestesia e fornecer maior conforto aos pacientes. Através de uma rápida pesquisa no PubMed, é possível encontrar mais de 600 resultados relacionados a esse tema2.
Abaixo citamos um caso clínico (vídeo) de complexidade média, onde foram aplicadas técnicas de hipnose com foco na redução da quantidade de anestésico, sialostasia, hemostasia, aumento do conforto da paciente, analgesia, anestesia, relaxamento muscular devido à limitação de abertura bucal, e recuperação pós-cirúrgica eficiente. Importante observar a tranquilidade que a paciente se encontra3.
Paciente de gênero feminino, 27 anos, foi submetida a uma cirurgia para exodontia (remoção) das unidades dentárias 28 e 38, também conhecidos como “siso”, “dente quero” ou “dente do juízo” do lado esquerdo inferior e superior, com limitação de abertura de boca e apresentando pericoronarite (inflamação das estruturas adjacentes ao dente) na unidade 38 (inferior esquerdo).
A paciente foi submetida a uma sessão de 15 minutos de hipnose dois dias antes do procedimento cirúrgico para experimentação da sensação de ser hipnotizada e adquirir maior confiança na técnica. Durante esta sessão conseguimos atingir um nível médio-profundo com presença de catalepsia de membros. Foram dadas sugestões pós-hipnóticas para que guardasse aquelas sensações de relaxamento e profundidade de transe para a próxima vez que fosse hipnotizada por mim, que relaxasse mais rápido e profundo e que sempre que acordasse depois das sessões de hipnose se sentiria muito bem e disposta, sem qualquer tipo de desconforto ou incômodo.
O foco inicial foi dar maior conforto à paciente usando a menor quantidade de anestésico possível, dar tranquilidade e obter um resultado de cicatrização pós-cirúrgica sem incômodos. Não quis arriscar uma anestesia hipnótica mais completa porque estava testando pela segunda vez a hipnose numa cirurgia e precisei fazer uma incisão relaxante4 extensa em região posterior ao dente 38 (“siso” inferior esquerdo). Utilizei técnicas de hemostasia e sialostasia hipnótica para diminuição de fluidos em região bucal, o qual foi atingido com sucesso. Técnicas de analgesia e relaxamento também foram utilizadas para região de ATM (Articulação TemporoMandibular) devido à limitação na abertura de boca. No término da cirurgia dei sugestões pós-hipnóticas de que não sentiria nenhuma dor, desconforto ou incômodo pelo período de sete dias e que acordaria se sentindo muito bem, disposta, tranquila e muito feliz.
A recuperação da paciente foi FANTÁSTICA! A paciente não apresentou nenhum tipo de edema (inchaço) pós-cirúrgico e saiu da cirurgia falando normal e bem disposta. Com apenas quatro dias já queria tirar os pontos, pois a cicatrização estava muito parecida com a de sete dias e os alvéolos (lugar no osso mandibular ou maxilar onde ficam os dentes) assim como a incisão relaxante bem cicatrizados. Mantive os pontos por sete dias no total, por motivo de precaução.
A Hipnose como Coadjuvante em Cirurgias
A Hipnose é cientificamente reconhecida como uma alternativa segura, econômica e eficiente às drogas utilizadas para anestesia e como sedativos. A reportagem abaixo, exibida no Fantástico, mostra como uma cirurgia para a retirada de um tumor foi realizada com o uso da hipnose aqui no Brasil.
No vídeo abaixo, produzido pela Discovery Channel, podemos ver uma pesquisa realizada com PET Scan, (leitor de atividade cerebral), na Universidade de Montreal, que mostra as mudanças fisiológicas que ocorrem no cérebro após e/ou durante a indução da hipnose.
A principal vantagem do uso da hipnose como anestesia/sedativo em cirurgias, procedimentos clínicos e ambulatoriais é que, diferente da injeção, o procedimento não afeta a percepção do paciente. Finalizado o procedimento, o paciente pode — a depender da complexidade da cirurgia —, por exemplo, voltar para casa dirigindo. Segundo Luiz Velloso, cardiologista do Hospital São Camilo em São Paulo, “A sedação medicamentosa é segura, mas ainda assim envolve alguns riscos. Já para a hipnose, o perigo é o mesmo que experimentamos ao dormir”.
No vídeo abaixo (em inglês) podemos ver um britânico, professor de hipnose, sendo submetido à uma cirurgia no abdômen utilizando apenas a auto-hipnose como anestésico ou sedativo. Observem atentamente sua expressão durante a cirurgia e seu comportamento no pós-cirúrgico.
No vídeo a seguir, o Dr. Rodrigo Rizzo, — fisioterapeuta responsável pelo site Mapa da Dor —, utiliza a auto-hipnose na extração do siso.
“Há uma demanda da sociedade por este tipo de atendimento dentário. Uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) neste ano aponta que 70% da categoria no país tem interesse na normatização do assunto. Não é para menos, posso assegurar, por experiência própria, que estes tratamentos são efetivos” — afirma o presidente do Conselho Regional de Odontologia de Brasília, Nilo Celso Pires.
— Jornal de Brasília
Podemos concluir que os benefícios psicológicos, terapêuticos e clínicos que a hipnose pode fornecer para a área médica e odontológica são diversos. Através de um trabalho sério e eficaz, com o tempo, poderemos tirar o rótulo de que ir ao dentista é sinônimo de tortura e aumentar a assiduidade dos pacientes em consultórios odontológicos, melhorando a estética, autoestima e demais fatores psicológicos e sistêmicos que envolvem o tratamento dentário e que hoje impede que a maioria das pessoas vá ao dentista.
• • •
Notas:
1 SUSCETIBILIDADE (èt): sf. (Forma alatinada de suscetível + -dade)
1. Qualidade do que é suscetível. 2. Capacidade de receber impressões ou sensações. = SENSIBILIDADE.
» (Grafia alterada pelo Acordo Ortográfico de 1990: SUSCETIBILIDADE). ↵
2 Pesquisa realizada em 07 de Fevereiro de 2016, com 642 resultados. ↵
3 Diferenças entre “analgesia” e “anestesia”:
- ANALGESIA: s.f. [Medicina] Insensibilidade à dor. = ANALGIA.
- ANESTESIA: sf. (grego anaisthesía, insensibilidade).
1. [Medicina] Privação mais ou menos completa da sensibilidade geral, ou da sensibilidade de um órgão em particular, produzida quer por uma doença, quer por um agente anestésico. 2. [Medicina] Supressão da sensibilidade do corpo ou de parte dele através de uma substância introduzida no organismo, geralmente antes de uma cirurgia (ex.: anestesia geral, anestesia epidural, anestesia local). 3. Substância usada para reduzir ou eliminar a sensibilidade. = ANESTÉSICO. 4. Torpor ou indiferença. ↵
4 A “Incisão Relaxante” é uma técnica da odontologia, onde o profissional tira (com outras incisões) o tencionamento da musculatura da área à ser incisionada, sem cessar o suprimento sanguíneo no local.
Neste link do Scribd, é possível visualizar alguns slides sobre a técnica. ↵
Atualizado em 2016/02/07