Aprender e praticar hipnose é como fazer musculação; você não entra na academia hoje, sendo um “chassi de grilo” e levanta 300Kg no supino só com a explicação de como se faz isso. É preciso levantar 30Kg, e após ter se habituado aos 30, aumentar para 40, 50, e assim sucessivamente, até atingir seu objetivo: 300Kg.
Samej Spenser
Recentemente, respondendo um email, usei a frase acima para orientar meu interlocutor à uma prática mais congruente em sua auto-hipnose. E isso me deu a ideia de escrever aqui pra você alguns trechos e/ou citações que gosto ou acho interessantes. Transcrevo alguns abaixo:
Uma apresentação sobre como se aprende a hipnotizar que, particularmente, acho muito legal, foi dada no livro Guia Prático de Hipnose, do espanhol Horacio Ruiz, publicado no Brasil pela Editora Madras.
“(…) Hipnotizar se aprende, é um processo psicológico que não requer qualidades sobre-humanas do hipnotizador. É uma técnica que pertence aos funcionalismos perceptuais motores. Como dirigir um carro ou ligar uma máquina de lavar. Claro que mais delicado, porque vai funcionar com a mente das pessoas. De modo que você pode ser um hipnotizador. A partir de então, terá de ver se consegue ser um bom hipnotizador, como acontece em qualquer atividade ou técnica que se aprende.
Para o conhecimento da hipnose não há atalhos. A natureza não dá saltos. Você precisa caminhar pouco a pouco, aprendendo bem, praticando tudo o que for aprendendo, cometendo erros e corrigindo-os. É uma técnica, não magia.
Qualquer pessoa pode aprender hipnotizar? Em princípio, a resposta é sim. Hipnotizar é uma técnica como qualquer outra. Para aprender a dirigir, por exemplo, precisamos de preparação teórica e prática. Aprender a hipnotizar requer o mesmo processo teórico e prático. Obviamente, haverá pessoas com mais facilidades que outras. Quase todo mundo pode dirigir um carro, mas nem todos participam de corridas.”
Horacio Ruiz, em “Guia Prático de Hipnose”, pp. 98-99.
(Itálicos por Samej Spenser)
Em outro trecho interessante desse livro, o autor apresenta o seguinte:
“Considero a hipnose (…) um método amplificador ou potencializador de habilidades psicológicas.”
Horacio Ruiz, em Guia Prático de Hipnose, p. 15.
É bem possível que alguns de vocês já tenham me visto afirmar que “a hipnose é natural e normal do e no ser humano!”. E após a leitura da introdução do livro “Hipnose não existe? Monstros e varinhas de condão”, de Steven Heller, Ph.D. e Terry Lee Steele, também da Editora Madras, passei a crer ainda mais nessa minha afirmação. O trecho específico que me levou a isso, foi esse aqui:
Agora, li Heller e Steele e percebi que uso “hipnose” o tempo todo, mesmo sem saber. Mas, então, parece que todo vendedor, advogado, político, policial, marido e mulher discutindo usam “hipnose” tão bem como sabem usar e, em muitos aspectos, o mundo é um circo com grupos rivais de hipnotizadores tentando hipnotizar uns aos outros.
Robert A. Wilson, em Hipnose não existe?, p. 16.
(Itálico por Samej Spenser)
Outro trecho do mesmo livro, um pouquinho maior, também me chama muito a atenção, e acredito que seja excelente citá-lo aqui:
Um problema fundamental em discutir ou escrever sobre o processo da hipnose é que, com os anos, tantas definições do que a hipnose é ou deixa de ser estiveram ligadas à palavra, sobre a qual as pessoas têm noções e ideias preconcebidas. Pode-se dizer que elas foram hipnotizadas para acreditar em seja lá o que for que elas acreditam sobre a hipnose.
(…) Há muitos bons textos e estudos de caso, que fazem um trabalho excelente ao apresentarem várias definições de hipnose diferentes e conflitantes. As pessoas podem ser livres para rejeitar ou não aceitar essas definições se considerarem adequado. Se, porém, a hipnose significar uma condição especial em que uma pessoa é colocada em algum estado místico profundo e então perde vontade sobre seu ser porque outra pessoas, chamada hipnotizador, cria sugestões tão poderosas e impressionantes que a vítima ou o participante não consegue resistir, então a hipnose não existe. Se este “poder” existisse, eu não escreveria este livro ou teria minha profissão.
(…) Se, porém, considerarmos a hipnose como um termo genérico, que inclui todas as formas de consciência alterada e não considerarmos a hipnose como um estado místico, podemos então conseguir um retrato mais claro, que parece mais confortável.
(…) Você pode considerar as técnicas de hipnose como um grupo de métodos para a produção de uma forma de energia diferente no cérebro e o estado de hipnose como um canal para direcionar essa energia para a realização de objetivos.
Steven Heller, em Hipnose não existe?, pp. 25-26.
É interessante como as primeiras páginas dos livros trazem frases e/ou citações interessantes! (Risos)
Um livro relativamente antigo, cujo tema é a auto-hipnose, nos diz assim:
Auto-hipnose é sinônimo de autodisciplina. Isto significa que você deve começar o dia com uma atitude saudável ante as responsabilidades que tem de enfrentar, bem como saber como você vai organizar o seu tempo e dispor de suas energias para cada dia. Viver sem planos é tal como dirigir um navio sem bússola. Para construir você precisa ser orientado pela planta. Para trabalhar num empreendimento você precisa ter organização.
Frank S. Caprio e Joseph R. Berger, em Ajuda-te pela Auto-Hipnose, p. 7.
Vários autores concordam (e eu também concordo) que “toda hipnose é na verdade uma auto-hipnose”! O indivíduo influencia a si mesmo por pensamentos e sugestões. E para demonstrar a ação da hipnose na vida diária, Frank S. Caprio e Joseph R. Berger, em Ajuda-te pela Auto-Hipnose (p. 20), fazem a seguinte citação:
Um dos melhores exemplo do efeito da sugestão até o ponto de tornar-se uma obsessão é o da pessoa que se apaixona por alguém. A sugestão é, nesse caso, em seus efeitos mentais e corpóreos, tão poderosa quanto o hipnotismo. A criatura responsável por este estado mental exerce sobre o apaixonado enorme fascínio, julgando destituída de atração qualquer outra pessoa e se torna em verdadeira cegueira quanto aos defeitos físicos e morais do objeto amado. Com frequência, o homem apaixonado muda os hábitos de toda uma vida, rompe com a própria família, põe na rua os seus melhores funcionários mais fiéis, arruína-se financeiramente, abandona o seu clube e o fumo e pode até mudar os seus princípios políticos ou a sua fé religiosa. Simultaneamente, com tais alterações morais estão presentes certos sintomas físicos. Diante do objeto amado um suave langor invade o indivíduo. A respiração se torna ofegante. O sangue aflui à cabeça, causando rubor na face. Paralelamente a isso há uma grande confusão do pensamento e da linguagem. Especialmente nos jovens e, quando o caso é muito agudo, poderá haver perda de apetite e insônia. Há, em geral, forte tendência à taquicardia e, às vezes, à sensação de que o coração vai saltar pela boca. O par apaixonado torna-se altamente hipersensível. A menor desatenção, um cumprimento menos afetuoso, ocasionará grave aflição, desencadeará temores ou angústias, que podem durar horas ou até mesmo dias. A pessoa fica soturna e evita a sociedade. Se o desprezo continua, ela fica pálida, emagrece e pode até acalentar mórbidos pensamentos de autodestruição. Não são raros os casos de impulsos homicidas à vista de um rival. Inversamente, um contato das mãos e, mais ainda, nos lábios ou faces, por mais fugaz que seja, poderá produzir duradouros sentimentos de exaltação e ventura. Não há hipnotizador capaz de produzir, de imediato, resultados tão complexos como os que manifestam no indivíduo que se apaixona.
Bernard Hollander, M.D., em Methods and Use of Hypnosis & Self-hypnosis, Wilshire Book Co., Hollywood, CA, 1957, p. 118.
EDIÇÃO: recentemente, peguei emprestado com o amigo Valdecy Carneiro um dos livros do hipnoterapeuta português Mário Rui Santos, e encontrei esse trecho…
“Se há algumas décadas víssemos um facilitador ou um terapeuta a falar com o seu paciente, ou cliente, de forma suave sugerindo-lhe que fechasse os seus olhos, que respirasse fundo e fosse relaxando os músculos do seu corpo, provavelmente pensaríamos que este terapeuta estava a hipnotizar o seu paciente. E, se para além das sugestões verbais, este terapeuta colocasse a palma da mão na testa do seu paciente, continuaríamos a assumir que seria hipnose associada aos famosos passes magnéticos. Pois…
Mas se isto acontecesse nos dias de hoje, muito provavelmente esta técnica poderia ser observada ou interpretada como meditação, visualização, reiki ou até mesmo cura prânica. Tal é a diversidade das técnicas e as diferentes abordagens que hoje em dia estão ao alcance de cada um de nós.
Afinal, que diferenças existem entre estas novas “velhas” abordagens de inspiração oriental e a “jovem” hipnose ocidental?
Como hipnoterapeuta e formador nesta área, posso afirmar que a hipnose destes ocidentais que somos, é apenas isso: a ocidentalização de muitas destas técnicas meditativas e terapêuticas, muitas delas seculares.
Adaptámo-las (e vamo-las adaptando) à nossa envolvente sócio-cultural, validámos cientificamente algumas delas, e criámos uma abordagem ou técnica a que alguns chamam de hipnose clínica e outros de hipnoterapia — querendo estes dois termos significar praticamente a mesma coisa”
Mário Rui Santos, em “Hipnose e Ansiedade - Reencontre o seu estado natural de tranquilidade”, Ed. Ariana (Portugal), pp. 20-21.
E você amigo leitor, conhece alguma frase, um trecho ou citação sobre hipnose que ache interessante?
Compartilhe comigo aí nos comentários! ;)
Abraços e até a próxima.